Entrevista a Fernando Carvalho, Administrador da UNICRE, para o Jornal Económico.

Em três perguntas, Fernando Carvalho, administrador da Unicre, traça o futuro dos meios de pagamentos com a digitalização da moeda e o avanço da Inteligência Artificial.

Como olham para os próximos cinco anos do mundo dos pagamentos?

Depois do que assistimos na última década, acredito que os próximos cinco anos serão, certamente, muito promissores e repletos de inovação. Vamos continuar a assistir à adoção de métodos de pagamento cada vez mais digitais e disruptivos, que estejam alinhados com as tendências do mercado e as exigências dos consumidores – um cenário que já temos vindo a assistir de acordo com o Banco Central Europeu, que apurou que os pagamentos por numerário estão a decrescer ao longo dos anos, representando 59% das transações no ponto de venda em 2022, 13% abaixo dos valores registados em 2019. Para além desta tendência, a inevitabilidade do apoio da inteligência artificial em todos os processos de compra e, por isso, também no processo de pagamento, impactará de forma substancial a jornada de consumo, o que trará desafios iniciais a todo o mercado.

Esta mudança de paradigma, como tivemos oportunidade de ouvir durante o evento “Os desafios e benefícios de jornadas de pagamento simples”, através de use cases de parceiros, só é possível através da tecnologia. A inclusão desta ferramenta no setor financeiro, em particular, tem impulsionado (e vai continuar a impulsionar) o desenvolvimento e disponibilização de experiências de pagamento cada vez mais diferenciadas, simples, rápidas, seguras e cómodas.

Quais as tendências que vão emergir? O que vai mudar nesta área?

Se há uns anos realizávamos transferências bancárias que podiam levar até 48 horas, agora assistimos a uma maior procura, por parte dos comerciantes e consumidores, por soluções de pagamento mais digitais, cashless e imediatas. Reflexo dessa mudança é a utilização da tecnologia contactless na REDUNIQ, na medida em que o número de transações realizadas através deste método de pagamento, em janeiro 2019, representava 11% das compras e, hoje, já representa mais de 80%. Sendo que, da mesma forma que refiro o contactless, refiro, também, o Tap-to-Pay, uma solução de pagamento por contactless diretamente num smartphone, sem necessidade de um terminal de pagamento, o Buy Now Pay Later, uma enorme tendência mundial, que chegou já a Portugal e que permite o fracionamento de compras sem juros, as wallets e moedas digitais, entre outras tendências que têm (ou vão) revolucionar o mercado de pagamentos.