Colaborador Único


Paula Milhinhos

Chegamos ao último mês do ano da melhor forma. Com a quadra Natalícia a aproximar-se e, numa altura em que nos predispomos a abrir mais os corações, vamos falar de solidariedade. Deguste a conversa que tivemos com Paula Milhinhos, a Colaboradora Única de dezembro!

Foi através do Unlocker Paulo França que Paula Milhinhos descobriu o “CASA” – Centro de Apoio ao Sem Abrigo. Cansada de ficar sentada no sofá, Paula decidiu que estava na altura de fazer mais pelos outros e aceitar o desafio de se juntar, como voluntária, à associação que apoia os Sem-Abrigo e famílias carenciadas na zona de Lisboa.

Para além de ofertas de roupa, apoio psicológico e assistência social para uma melhor reintegração na sociedade, os voluntários do CASA distribuem refeições aos que mais precisam. No entanto, Paula Milhinhos, quando começou, queria ir muito para além disso:

P.M: “No início, queria ajudar em tudo, queria dar atenção a todos! O sentimento quando chegamos a casa é de que há tanto por fazer. Cheguei a dar por mim a pensar nas pessoas que nos procuravam com vidas tão difíceis, como poderia eu ajudar…? Havia aquela vontade de ajudar com mais do que aquilo que tínhamos para dar.

Mas com o tempo fui percebendo que o melhor que podemos fazer, além de lhes dar comida, é ouvi-los e fazê-los sentirem-se gente, pois têm uma necessidade enorme de falar, de contar as suas histórias de vida, e foram tantas as histórias ouvidas…”

Paula revelou-nos que nunca teve qualquer preconceito ou receio de se juntar à associação. Apesar de existirem casos bastante complicados, o grupo de voluntários apoia-se muito e os mais experientes alertam e protegem os iniciantes. Com o passar do tempo, o ambiente vai ficando cada vez mais familiar:

P.M: “ Começam a fazer parte da nossa noite, já os conhecemos pelos nomes, já nos tratam como se fossemos chegados e é muito gratificante.”

Os laços que se criam entre voluntários e as pessoas que são ajudadas vão-se, sem se dar por isso, fortalecendo e Paula diz que é impossível ficar indiferente a certos casos. Esta relação que se vai construindo fez com que, um dia, Paula até quebrasse uma das regras da associação: não oferecer dinheiro aos Sem-Abrigo.

P.M: “Não foi em dia de voluntariado, foi num dia em que, ao passar pelo sítio onde ele estava sempre a arrumar carros, ajudei com dinheiro. Foi apenas uma vez! Esse homem tem uma história de vida incrível…e é um homem inteligente, mas o caminho que seguiu não foi o melhor. E, depois de ter este rótulo de Sem-Abrigo, é muito difícil ter uma vida dita “normal”.”

A nossa Colaboradora Única acredita que o voluntariado impacta a vida de cada um e que altera a forma como vemos as coisas. As histórias que Paula ouviu vão ficar-lhe para sempre na memória e guarda-as como lição de vida:

P.M: “Lembro-me de uma história de um homem que, na infância, dormia junto de porcos, pois era ali que o pai o punha… e de outra com um senhor de classe média que, uma noite, veio ter comigo e chamou-me à parte para saber como poderia ser ajudado, sem que ninguém soubesse. Era casado, tinha dois 2 filhos e ficou desempregado, estando a passar bastantes dificuldades.

Penso que, inevitavelmente, começamos a aprender a dar o devido valor ao que temos e a não sermos tão consumistas e egoístas.”

Mas o voluntariado também nos permite fazer coletâneas de histórias insólitas:

P.M: “Há uma em concreto que recordo sempre com um sorriso:

Uma noite, quando paramos no Martim Moniz, lá veio o Nelo ter connosco para nos cumprimentar e recolher a sua refeição e a dos colegas que ainda não tinham chegado. Nisto, disse-nos, “- Trazem bolo? É que hoje faço anos!”. Por acaso, não havia bolos nesse dia!!! Nem prenda, mas ele disse-me com um ar bem disposto, “-Ofereceram-me um perfume, mas é de mulher… Vou oferecer-to a ti!”. E assim foi.”

Agora que nos aproximamos do Natal, tivemos curiosidade em saber como é que a associação o comemora com os Sem-Abrigo:

P.M: “Fazemos um almoço de Natal que é aberto a toda a comunidade. É um dia de festa! Começamos a distribuir com antecedência o convite que se estende à família e aos amigos que queiram ir. Têm direito a uma refeição de bacalhau com todos, muitos doces e muito calor humano. No final, cada um leva um presente para casa!”

É, efetivamente, uma noite muito bem passada! E principalmente por servirem um dos pratos preferidos da comunidade. (Já o arroz com salsichas é a ementa que reúne piores críticas e até mesmo algumas reclamações!)

Paula Milhinhos acredita que somos um povo solidário, mas que ainda há um longo caminho a ser percorrido nesse sentido. Aos Unlockers, deixa esta mensagem:

P.M: “Apenas digo: Experimentem! Deem um pouco de vós aos outros. Se acharem que tal vos acrescenta valor, então repitam a experiência. Existe tanta gente que apenas precisa de ser escutada e, de certeza que, no final, cada um irá para casa com o coração mais rico.”

Já a trabalhar nas resoluções de ano novo, Unlocker?

Feliz Natal! E até para o ano…